quarta-feira, 4 de novembro de 2009

O Pai da Minha Mãe; o Avô Manoel


Parece heresia mas estava em dúvida sobre escrever, sobre a casa onde cresci entre os quatro e os sete anos, ou sobre o meu avô materno.
Optei pelo meu avô porque hoje não estou a fim de falar da casa.
Começando pela imagem acima para enquadrar o espaço...
A foto é de 1929, feita em Queluz, na casa do Senhor Albano, o Chalet Violeta. O referido senhor é o primeiro da esquerda.
O segundo a contar da direita é o Jorge Antunes, o padrinho que deu o nome, Jorge, ao irmão da minha mãe, o Jorge Reis, nascido nesse mesmo ano.
O primeiro da direita é então o meu famoso avô materno, o Manoel Gonçalves dos Reis, nacido em Góis em 31 de Dezembro de 1898 mas registado por engano como sendo 1899.
Creio que uma boa parte do meu gosto pela fotografia e imagem vem dele, que já no fim dos anos vintes fazia fotografia. Por isso tenho belas fotos dele, da minha mãe e avó materna, de Queluz, Lisboa e Góis ao longo de 30 anos durante o século vinte.
Se o meu pai foi um homem com uma vida cheia de interesse, este avô é na classe dele o que mais me admira.
Segundo histórias dispersas foi ao tal Senhor Albano que ele comprou uma loja de peles em Lisboa, na Rua Augusta ou da Prata, a Casa da Rússia.
É à porta deste estabelecimento que o meu pai, sem sonhar que um dia se viría a juntar com a minha mãe, andava cerca de 1939 com uns amigos a marchar com bandeiras vermelhas enroladas. Depois veio a Pide, os polícias políticos da época, e eles desenrolam as bandeiras que afinal não eram soviéticas mas sim do Benfica. O avô Manuel ria-se da brincadeira.
O avô embora da família do Marcelo Caetano, o primeiro ministro antes da revolução de Abril de 74, tinha crescido com uma educação mais de esquerda. O pai dele era um Socialista bolchevique, que lia Marx e Engels.
A propósito de Marx e de Pide, o meu avô de vez em quando ía até à prisão de Caxias passar umas temporadas em que eles através de turtura, pancadaria e outros meios tentavam fazer com que ele admitisse ser comunista. Giro é que quando os agentes estiveram lá em casa nem deram por coisas tipo “O Capital”.
A vantagem de serem todos portugueses e ser da família do Marcelo, que já estava no Governo do Salazar há uns anos, era que enquanto estava preso, aparecia de tempos a tempos um camião da Manutenção Militar que vinha trazer comidinha, mantimentos e outros diversos. Foi assim que certa tarde de 1945 a minha mãe, no meio das coisas, ganhou pela primeira vez uns colants; eram norte americanos, feitos pela DuPont.
O avô Manoel dedicava-se a vários negócios e o interesse dele pela quimica levava a que tivesse também um laboratório farmaceutico em Coimbra, o Sier. Além disto também era correspondente do jornal “A República”.
O circulo de amigos era invejável e alguns dos maiores tinha-os conhecido enquanto fazia teatro.
Outros eram da rádio, no entanto era no cinema que encontrava o maior prazer. Era normal encontrar-se com os grandes realizadores da época, como o António Lopes Ribeiro, o Manoel de Oliveira ou o Perdigão Queiroga. Foi nos estúdios deste último que conheceu uma amiga com a qual teve uma relação mantida até ao fim da vida. Não me lembro do nome mas sei que era anotadora do Queiroga e que tinha sido uma relação começada a partir de uma aposta com um motorista. Quase foi viver com ela e ainda chegou a querer levar a minha mãe e o irmão para a sua casa. Algo aconteceu que travou essa vontade. A história da aposta era mesmo verdade porque um dia, eu em Lisboa, apanho um táxi conduzido por um senhor já idoso e depois de animada e estranha conversa, chegamos à conclusão que era desse preciso episódio que estávamos a falar, sendo esse motorista aquele com quem ele tinha feito a aposta.
Durante estes anos ainda consegue ser co fundador da protectora dos animais e membro activo no arranque do MUD, Movimento de União Democrática, um partido cujas influencias se terão arrastado por fracção até ao CDE, mais tarde MDP, tendo-se dissolvido depois da morte do José Manuel Tengarrinha, seu último mentor.
Em 1968 o Manoel morre com um cancro de estomago.


Os cães lá de casa deixaram de ir ter à Estação do comboio para o esperar... tal como faziam todas as tardes.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

O Dia da Mãe




Tinha guardado este dia para falar da minha mãe, neste espaço que me permite, fundamentalmente, deixar por escrito para as minhas filhas Mafalda e Mónica, quem foram os seus antepassados.
A Mónica teve pouco contacto com ela mas a Mafalda ainda se lembra dela, especialmente por causa das chávenas de chá, muito fraquinho, que a minha mãe fazia para ela.
A minha lembrança sobre a minha mãe deve-se a diversas coisas. Em especial sinto-a naquilo que herdei dela. O meu sentido artístico vem do lado dela e do meu avô materno.
Ela pintava uma "espécie rara", o hiper realismo. Fazia quadros grandes em que mostrava especial atenção para com a natureza. Nos quadros dela era sempre de dia e havia sol. Eram sempre muito primaveris. Os brilhos nas folhas ou nas pequenas ondas dos lagos eram retocados a pincel zero ou até zero zero.
Desde muito pequena que tinha uma tendencia clara para as artes e além da pintura, desenhava, desenhava e fazia bordados extensíssimos com um enorme rigor, visível pelo inverso dos trabalhos onde todos os remates são identicos e onde todos os pontos mantêm a mesma direcção. Naturalmente não estou a explicar bem só que não sei as expressões correctas.
Nasceu em Queluz e adorava o Palácio. Tinha orgulho no facto do Pai dela ter ajudado a salvar imensas coisas no fogo do Palácio nos anos 30 ou 40 do século XX.
Não tinha tanto orgulho em outras coisas mais pessoais, especialmente no que dizía respeito às amantes que ele tinha.
A minha mãe tinha fortes influencias de esquerda, ou daquilo que se afirmaría como esquerda na actualidade. Afinal o Pai tinha sido um dos fundadores do MUD, Movimento de União Democrática, tinha sido preso pela Pide e o Avô Paterno dela era um verdadeira Socialista Bolchevique, que lia Marx e Engels.
Quando o Santa Maria foi desviado a rádio não disse quase nada sobre o assunto, mas ao ouvir a notícia, a minha Mãe disse logo que tinha sido o Henrique Galvão e que estavam a desviar o navio para o Brasil. O meu Pai que era funcionário do Estado, ficou assustadíssimo. Infelizmente na época não era razão para menos.
Em 1959 a minha Mãe meteu-se no Mousinho de Albuquerque, um Lockheed L1049 "Constelation" da TAP, e foi ter com o meu Pai.
Desde esse dia o meu Pai tornou-se absolutamente monogâmico.
Houve um dia que decidiram começar a viver juntos e algum tempo depois, PUF, nasci.
Eu nunca imaginava ... todos os meus colegas de escola tinham pais que eram casados um com o outro.

Um dia a minha mãe convidou-me para um casamento; tinha eu 15 anos
Eu lá fui sem fazer perguntas porque ela disse que era surpresa. Eu gosto de surpresa por isso não me importei.
Bem, mas foi realmente uma enorme surpresa... era o casamento dos meus pais.

Dos tempos de África, uma das minhas lembranças em mais pequeno é aquele dia das fotos que estão ali no topo do texto, tinha eu dois anos.
Lourenço Marques era uma cidade muito bela. O meus pais saíam, não todos os fins de semana mas quase. Levavam sempre a máquina fotográfica e registavam-se os passeios. Por isso a memória tem a vida facilitada.
Toda a nossa vida foi profundamente abalada pela revolução.
Perdemos tudo e nunca mais a vida foi o que era.
O meu Pai largou o Estado e finalmente foi o que desejava; professor a tempo inteiro.
No dia dos meus anos em 1993, o meu Pai morreu e a minha Mãe ficou só.
No dia seguinte à morte dele, a minha mãe contou-me que ele lhe tinha aparecido uma vez mais só para lhe dar flores... era mesmo dele.
Ela não gostava de grandes visitas e nem sequer imaginava viver com alguém em algum outro local que não fosse a sua casa.
Eu ía-lhe levar regularmente compras. Ela não saía e eu sabía muito bem os gostos dela.
Houve um dia que ela entre as grades da janela da cozinha me disse adeus. Ficou-me para sempre a lembrança desse fim de tarde, da sua mão a acenar, do seu olhar e do seu cabelo.


Três dias depois telefonei-lhe e ela não atendeu.
A minha Mãe faz hoje 82 anos.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

O porquê dos gatos na vida do Papy


Os gatos são aquele ser que resiste sozinho.
Provavelmente os gatos na minha vida foram transmitidos no código genético e da mesma forma que a minha mãe gostava de cães e o meu pai de gatos, eu gosto de gatos e de gatas.
O primeiro gato existencial apareceu na mercearia do meu avô paterno cerca de 1936. Vinha meio cinzento, meio sujo demais, quando entrou pela porta do estabelecimento com umas salsichas nos dentes. O António do talho achava que esse gato tinha entrado na mercearia mas o meu avô afirmou desconhecer tal facto. O António não se conformou totalmente. O meu avô deve ter ficado moído porque não mentia. O gato tinha ganho um lar e uma pançada de salsichas de talho.
Contra a sua vontade, os meus avós e o meu pai deram banho ao gato e foi uma surpresa. O gajo afinal não era cinzento; era preto.
Como era meio furtivo, chamara-no de Morcego e transformou-se o gato terror do Bemformoso.
Este Morcego ainda foi "exportado" para África.
Em Abril de 1940 o meu avô morre e embora o meu pai se esforçasse por manter o negócio, a mercearia que era aquilo que sería chamado hoje de Cash & Carry, tem que ser vendida.
Os efeitos da segunda guerra mundial e a falta de conhecimento do mercado, ganham nesse momento.
Assim, o meu pai e a minha avó vão com o Morcego, no navio Colonial para Lourenço Marques.
Deixam Lisboa em 13 de Novembro de quarenta. A data vai repetir-se duas vezes na família. Vinte anos depois eu nasço e nesse mesmo dia de '93, o meu pai morre.
O Morcego "sobrevive" à viagem e ainda se aguenta ao calor tropical por mais 10 anos.
Mais gatos vão passar pela família mas os únicos que recordo da infância, são o Chapéu, o Gigóz, que segundo os meus pais desapareceu lá de casa fugindo com a minha chucha, e o Morcego II.
Mais tarde, já em Portugal houve um preto e branco com o genial nome Ron Ron. A minha mãe tinha pedido que se chamasse Larbel... não compreendo porque não. Afinal havia tanto gato com nome estranho na família.
O Ron Ron foi o último de todos os gatos a cohabitar com o meu pai. Tinha sido salvo do respiradouro do prédio em pequenito. A gata mãe tinha ficado atropelada na Rua do Moínho Velho.
Não há quase foto onde não haja Ron Ron e meu pai em simultâneo da mesma forma que não há fotos do meu pai sem livros à volta.
Mas isso não tem a ver com a história dos gatos.
Os gatos na minha são uma herança...





domingo, 26 de julho de 2009

As meninas do Papy

Quando o Dico soube que a Mafalda ía fazer 18 anos, embora sem entender esse valor, quis ir à terra onde ela, a irmã Mónica, e a mãe vivem.

Duzentos e cinquenta quilómetros para cada lado é longe para as patinhas de um gato. A viagem, obviamente, foi de carro. Nem uma média de um vómito em cada cem quilómetros lhe demoveu o interesse pela viagem e por descobrir quem eram as raparigas. Para ele nunca foi possível entender porque é que não estamos todos juntos.

A Mafalda hoje também vive mais tempo em outra cidade onde estuda. Estudar é uma expressão muito vasta. Na linguagem do caloiro acabado de chegar a uma grande cidade, cheia de qualidades, tentações, valores e até uma universidade, estudar pode significar, amigos, copos, noites, noites copos, namorado, dormir pouco ou o possível, comer, quase sempre mal, fazer amor com o namorado, comer, copos; estudar por vezes... e correr tudo mal lá na universidade.

A Mok continua a ser o ser só dela. A individualidade secreta, a imagem do pai nas suas piores coisas e até em algumas mais aceitáveis como o gosto pelo Metal e pelo Gótico, especialmente o Sinfónico.

Hoje em dia a Mafalda tem um gato, o Tobias, que tal como o Fred, é um gato cibernauta. Fala várias vezes com ele, embora por vezes seja por telemóvel. Além de se dar bem com gatos que vivem no telhado da casa dele, também fala esporádicamente com o Gatin e Gaton, dois gatos que conheceu em Espanha.

As meninas do Papy estão sempre na lembrança do Fred e quando raramente o papy as vai ver, o Fred tem sempre a esperança que ele o leve, mas quando o papy sai com a malinha e diz xauz, o Fred sabe que uma vez mais não foi e uma vez mais vai ter que ficar com uma lágrima a olhar para uma porta fechada

sábado, 25 de julho de 2009

o princípio da história



Toda esta desgraça começa num dia em que o gato me apanha no trabalho e decide começar um Flog.


Era para aí Setembro de 2007 e eu vivia com ele numa casa que tinha sido um sonho mas estava condenada a provocar a desgraça na vida de todos os envolvidos.
Embora esta fosse a segunda casa do gato, o Gato Frederico, conhecido pelos outros gatos por Fred sentia-a como sua. Tinha nascido em Vila Real de Trás os Montes e por causa de um dia das mentiras tinha sido importado num caixote de cartão de uma marca conhecida de vinhos.
Estava eu a fazer o jantar quando bateram à porta. Fui ver quem era e lá estava ele dentro do caixote, deixado à porta, propositadamente.
As lulas ficaram uma porcaria, mas desse tempo, nos braços, ficou-me o gato e a saudade da Helena que mo tinha trazido.
O Fotolog do gato nasce num dia em que aproveitando-se da net ligada, decide começar a escrever mensagens.
Como não tinha mais nenhum gato com e.mail, resigna-se à ideia de construir um Flog onde possa ir contando a sua vida.
Para a primeira mensagem vai usar como identificação aúnica coisa que tem, isto é, o passe da camioneta.
O maior problema do Fred é que como não sabe ler, só sabe escrever, sempre que escreve não faz a miníma ideia se tem erros. Entretanto está a evoluir na língua, já que anda a aprender a ler com as legendas das séries e filmes norte americanos preferidos do gajo que ele deixa viver lá em casa, o Papy que tá at work, Eu.